EconomiaDestaquesInvestimentos

Impacto da Alta da Selic no Mercado de Fundos Imobiliários e a Situação do VINO11

O cenário dos fundos imobiliários tem sido impactado pela recente alta da Selic, que contribuiu para uma queda no IFIX em setembro. Neste artigo, vamos explorar como esse aumento da taxa de juros afetou o desempenho dos fundos imobiliários e fazer uma análise do fundo de lajes corporativas VINO11, que tem enfrentado algumas dificuldades nos últimos tempos.

Contexto da Alta da Selic e o Impacto no IFIX

IFIX – Status Invest

Até recentemente, em 2024, havia uma expectativa de uma diminuição gradual da Selic, que havia subido consideravelmente devido à pandemia. Esse movimento havia favorecido uma recuperação nos investimentos em renda variável, fazendo com que os fundos imobiliários voltassem a se valorizar. No entanto, com a recente sinalização de uma nova alta da taxa de juros, a trajetória dos fundos imobiliários sofreu um revés.

Em setembro, o IFIX registrou uma queda de pouco mais de 2,5%, influenciado pelo aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, que agora está em 10,75% ao ano. No entanto, ao observarmos o gráfico do IFIX em um período maior, vemos que o índice permanece próximo de suas máximas. O IFIX, que lateralizou por muitos anos na faixa dos 2900 pontos, agora está, desde o final de 2023, acima dos 3000 pontos, e atualmente supera os 3200 pontos.

Isso destaca a importância de uma análise mais abrangente do cenário, evitando se guiar exclusivamente por manchetes. Embora a alta da taxa de juros afete momentaneamente a atratividade dos fundos imobiliários, no cenário macro, esses fundos têm mostrado crescimento consistente, com um número crescente de investidores e uma renovação nos regulamentos, que fortalece a classe de ativos.


Análise do VINO11: Problemas e Desafios

Relatório Gerencial – Status Invest

O VINO11 é um fundo imobiliário de lajes corporativas que, embora tenha boas perspectivas de longo prazo, enfrenta alguns desafios que afetam sua performance e geram preocupações para os investidores. Um dos principais pontos de risco do fundo está na concentração de receita. Atualmente, o ativo que abriga a sede da Rede Globo em São Paulo representa 44% da receita do fundo, ou seja, quase metade da receita total do VINO11. Isso cria uma vulnerabilidade significativa, pois a dependência de um único inquilino para uma parcela tão grande da receita aumenta o risco em caso de vacância ou inadimplência.

Outro problema enfrentado pelo fundo está relacionado à inadimplência da WeWork, que representa 5% da receita do VINO11. Essa situação já escalou para uma ação de despejo, conforme relatado no último relatório gerencial do fundo. A combinação dessas duas situações coloca pressão sobre a previsibilidade das receitas do fundo, embora 79% das receitas de aluguel estejam previstas para contratos que vencem somente após 2028. Essa previsibilidade de longo prazo poderia ser positiva, mas as incertezas presentes comprometem a confiança dos investidores.


A Alavancagem e a Venda de Ativos do Fundo

Outro aspecto importante a ser considerado no VINO11 é a alavancagem significativa que o fundo possui. A dívida total está na faixa dos 484 milhões, sendo que parte desse endividamento foi utilizado para a aquisição da sede da Rede Globo. Recentemente, o fundo realizou a venda de um ativo no Rio de Janeiro, o BM 336, que totalizou 385 milhões e representava 30,8% dos ativos do fundo. No entanto, mesmo com essa venda, a situação financeira do fundo não mostrou sinais claros de melhoria.

A concentração de receita em um único imóvel, os problemas com o inquilino WeWork e a necessidade de lidar com uma dívida significativa criam um cenário desafiador para o VINO11. Além disso, o atual contexto macroeconômico, com o IFIX sendo pressionado pela alta da Selic, contribui para uma perspectiva negativa no curto prazo.


Indicadores do VINO11: P/VP, Rentabilidade e Dividendos

Indicadores – Funds Explorer

Essas dificuldades são refletidas nos principais índices do fundo. O índice P/VP (Preço sobre Valor Patrimonial) do VINO11 está muito abaixo de 1, atualmente em 0,48, indicando que o preço de mercado do fundo está bastante descontado em relação ao valor de seus ativos. Embora isso possa parecer uma oportunidade para alguns investidores, também reflete a percepção do mercado sobre os riscos e as dificuldades enfrentadas pelo fundo.

Além disso, a rentabilidade do VINO11 está negativa em 14%, o que não é um bom sinal para os cotistas. Por outro lado, o dividendo do fundo está atualmente em 13,42%, um valor alto que, à primeira vista, poderia ser atrativo para quem busca renda passiva. No entanto, esse percentual elevado é consequência direta da forte queda no preço da cota, e não necessariamente de uma melhoria nos fundamentos do fundo.


Considerações Finais

O cenário dos fundos imobiliários está, sem dúvida, desafiador, especialmente com a alta da Selic criando um ambiente de maior aversão ao risco e impactando diretamente o desempenho do IFIX. Fundos como o VINO11, que enfrentam problemas internos como inadimplência, concentração de receita e elevado nível de alavancagem, acabam sendo ainda mais pressionados em momentos como este.

Por outro lado, é importante considerar que a situação dos fundos imobiliários é cíclica e que, apesar dos desafios atuais, a perspectiva de longo prazo pode ser mais positiva. Para os investidores, fica a lição de analisar o cenário macro e micro antes de tomar qualquer decisão. Embora a alta dos juros afete o mercado de fundos imobiliários no curto prazo, a classe de ativos continua a ser uma opção atrativa para quem busca diversificação e renda passiva, especialmente em um contexto de melhora econômica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

5 + dezenove =